quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

vem-me à cabeça a suiça..

jorginho... ia pôr uma foto de donde estou - aqui em frança, courchevel - que me faz lembrar-te quando vivias na suiça. mas olha, fiquei logo fodida: já não posso partilhar fotos que tenho no meu pc. pelos vistos já não dá. e se fizer desde o meu tel, diz a mensagem que tenho que instalar uma aplicação para que as fotos que eu tenho deixem de ser minhas. pertencem ao google+. sabem que mais? uma ova!!! as fotos que eu faço são minhas!! e não quero compactuar com estas merdas. todos temos de abdicar de tudo: direitos sociais, liberdade de expressão, trabalho, família, cão e gato, amigos, fotos, merdas. são todos uns sanguesugas jorge! e eu sei muito bem o quão te irritava todo este sistema manipulador! eu sei. portanto não ponho foto coisa nenhuma.
imagina a suiça nos invernos que lá vivias. pois isto aqui está mais ou menos igual. tem a sua beleza, não há dúvida. mas também soube à pouco tempo pela tua/minha irmã laura que, para ajudares a uns portugas em dificuldades, deixavas a porta aberta da tua casa, para que quem não tivesse fartura, fosse a tua casa, cozinhasse o que tivesses no  teu frigorífico, arrumava tudo direitinho e ia-se embora. tudo nos conformes. era assim que a tua alma funcionava. mais para os outros do que para si. e isso fazia que sobejasse sempre mais para ti, né mano? mas sabes? isso não é para todos! é só para alguns. só para aqueles que nascem abençoados, que nascem sabendo que a coisa nunca será de mão beijada, mas de grande recompensa pelos actos altruistas que cada um vai vislumbrando ao subir as escadas desta vida.

será que um relvas, um passos, um sócrates ou miles deles espalhados por aí têm uma irmã, mãe, tia, prima, avó ou qualquer um que chore por eles? será que algum dia sonham em deixar a porta da casa deles aberta para que alguma alma necessitada possa entrar, cozinhar, arrumar e ir-se embora à sua vida? tenho as minhas dificuldades em imaginar uma coisa dessas. gente tão mal formada, tão mal nascida que continuam a germinar e semear o mau destino de muitos podem ter alguém a chorar por eles? será que lhes cai a ficha nulgum momento? faz-me logo pensar no filme magnólia, em que só na hora da morte a ficha cai. é possível.

deixa-me dizer-te que desde que partiste a coisa está preta. muito mais do que te podias imaginar quando cá estavas. muito mais preta vai ficar se não houver gente como tu, sem medo nenhum de semear a vontade de mudança, de contagiar os seus vizinhos, amigos, colegas e tudo que mexa para se parar com a apatia. jorge, precisamos de muitos jorges. precisamos de muita coragem para seguir enfrente e combater o sono que domina o país. o futebol dá sono. a escravatura dá sono e medo. o trabalho por meia dúzia de tostões dá muito medo de agir. o fado é o sono e o medo deste país que por acaso é o nosso.
manda energia. manda raiva. manda  um exército de luz que bombardeie e penalize a apatia e a desculpa para quem pensa qua não é nada com ele. manda uns relâmpagos para quem desgoverna e fumina-os de vez!  manda a justiça ser justiça, em vez de ser uma ferramenta do sistema.

jorge, fazes-me tanta falta! a mim e a muitos.
se cá estivesses, ia-te ver no dia 23, abriamos uma garrafa de um bom douro, se calhar cozinhavas umas coisinhas boas, convidavas meio mundo e delineavamos uma estratégia, né? seria assim, de certeza! é dessas certezas que  me descolhoaste ao partires assim sem mais. eu sei que não pediste para partir, mas eu tenho o direito de resmungar.

domingo, 6 de janeiro de 2013

ouvir nas entre linhas

lembro-me faz algum tempo de ter querido começar um diário de bordo. um pouco como um desabafo de sensações, experiências, rotinas e críticas de como sinto o meu dia a dia. lembro-me também de ter iniciado e ter enviado ao jorginho. ele respondeu.
começo o meu diário de 2013, relembrando essa primeira partilha mútua.
isabel canhola <isabelcanhola@gmail.com>
09/11/10



para previuseguros, jorgecanhola

Querido max, querido jorge!
Sei que já devia ter dado notícias faz algum tempo, mas o tempo voa e disponibilidade não é assim tanta para me sentar e escrever um pouco sobre o que me vai acontecendo pelas terras do norte. Vocês sabem que vos adoro e que o meu silêncio nada tem a ver com com os meus sentimentos. Até porque as coisas vão acontecendo tão rápido que nem sequer sei o que quero escrever de um momento para o outro.

Vou tentar fazer um pequeno diário de bordo, para que possam seguir um pouco a minha vida por estas bandas. Claro que não tenho muito jeito para a escrita. Prefiro mil vezes usar o telefone para comunicar, mas como não é assim tão fácil, tento pelo menos escrever aos amigos íntimos um pouco do que me vai acontecendo por aqui.
Chagando a Holanda fui muito bem recebida! A Vicky, minha conhecida em Portugal, fez questão de ter já um quarto pronto em sua casa para me receber!! No primeiro dia de chegada conheci uma amiga dela, fomos a sua casa e bebemos uns margueritta feitos por uma profissional! Muito simpático. Aliás, esta é uma característica de todos os holandeses, que ainda tinha memória dos tempos em que vivi aqui em 1975!! E depois ainda fomos a um bar na praia de Schreveningen, onde o vento fortíssimo me fez lembrar as nortadas do Norte, Marion, que viveu 25 anos no Brasil e um conhecimento perfeito de castelhano, fomos ver um filme argentino El secreto de sus ojos. Filme admirável, de um humor muito particular, que só os argentinos possuem!! Vale a pena ver.
que bom que os holandeses subtitulam os filmes, mantendo a originalidade e entonação própria. foi o que sempre apreciei em portugal. alíàs, penso que os portugueses têm mais facilidade de aprender idiomas em parte devido a essa característica, ao contrário de espanha ou outros países.

Dia seguinte, começa a marcha pela cidade!!
Levantei-me cedo, mentalizando-me que nesse mesmo dia conseguiria um job. Não sei em quantas agências eu entrei, só sei que passei 6 horas entre caminhar e tocar a portas, os pés fizeram-se notar..

A grande conclusão: Não fala holandês?? desculpe, não é possível.....
Enfim, coisas que passam.... Mas levei assim a minha primeira derrota!!
Comecei a pensar: Falo 5 idiomas, que faço eu num país onde não falo a língua???

Realmente os holandeses são fantásticos, super abertos e comunicativos! Disso nunca tive dúvida! Mas, pela primeira vez senti aquele desconforto, ao aperceber-me, que, sem saber falar o idioma, não iria a lado nenhum. Tão simples quanto isso.

Não tenho já problemas que me cheguem?? Preciso de mais um? Sou masoquista??
Claro que no dia anterior já tinha comprado uma bicicleta, claro que já tinha comprado um nr. telefone holandês... mas estava também claro que estava sofrer na pele a derrota eminente!
Tive a minha primeira depressão. Comecei a imaginar a minha vida a andar para trás e a sentir-me a mais fracassada do planeta e arredores.
Comecei a pensar na Lisa, na família, nos meus amigos, nas saudades, na cadela, e só queria estar com todos eles e esquecer este episódio!
Apetecia-me berrar bem alto para que todos ouvissem aquilo que penso há muito: que não acredito na política da EU, não acredito no sistema em que todos estamos involuntariamente envolvidos e que todos nós somos uns meros fantoches nas mãos de uns incompetentes, desgovernados e insensíveis!!
Fui para casa, com a chuva a bater-me na cara, pensando, insistindo que tudo se iria resolver!! Nunca baixes as armas, isabel! Never!

A vicky estava a trabalhar todo o dia e fiquei calada a pensar com os meus botões o que raio fazer com esta situação.

No dia seguinte o telefone toucou e era a Ulli Langenbrinck.. aquela amiga sempre presente, disponível e incondicional.. a dizer-me que tinha trabalho pelo menos para 2 dias por semana numa loja de roupa Second Hand, e uma entrevista para recepcionista num hotel!
antes de sair de portugal já tinha falado com todos os meus amigos que vivem noutros países. ela pôs-se logo em marcha, apesar de ter muito pouco tempo disponível e pelo facto de ela viver um pouco longe de colónia, dificultar mais as coisas.

Uf!!! A moral disparou e pensei: claro, alemanha, outra vez!!
A vicky ainda não tinha chegado, mas comecei a fazer de novo a mala e a ficar muito bem disposta! Yes!!! vi na net os horários de comboio e quano ela chegou dei-lhe a novidade!! Claro que ficou feliz por mim, mas também triste por partir. Mas a vida é mesmo assim.... O bom disto tudo é que levamos sempre todos no nosso coração! E não pesam. Muito pelo contrário, dão-nos muita força!!Ainda tive tempo de ir à loja das bicicletas dizer ao senhor que afinal me iria embora, e ele com um grande sorriso, devolveu-me o dinheiro, desejando-me muita sorte!! yes!!!!

Passado uma hora já me encontrava no comboio em direcção a Oberhausen na Alemanha. 3 horas e meia foram o suficiente para conversar com um senhor turco, refugiado político, que me ajudou SEMPRE com a minha mala super pesada nos 3 transbordos que tivemos que fazer! Enfim, sem comentários! Quem pode desistir do ser humano!
Fui recebida sem palavras para o expressar, pela Ulli e seu filho, yoyo ( jonathan). O jantar já estava quase pronto quando cheguei, a garrafa de vinho a respirar e as boas vindas foram daquelas: ficas o tempo que quiseres ficar!!! não te tens que preocupar com nada! grande amiga e solidária!
Melhor que isto, só na farmácia, como diz o outro!

O jantar foi muito animado e com muitas perguntas e respostas.
A Ulli é uma mulher fantástica, muito inteligente, lutadora, fala português e castelhano na perfeição e é jornalista. Escreveu muitos artigos/livros sobre portugal, cuba, fez programas de rádio na alemanha sobre a música e cultura portuguesa, enfim, uma mulher com uma bagagem cultural surpreendente e admirável.
Conheço a Ulli (não sei bem precisar) há uns 20 anos e sempre ficamos em contacto.
Quando a nossa mãe faleceu, foi uma das pessoas onde eu me refugiei por uns dias, quando me ausentei de portugal para ver se me encontrava de volta. Foi ela, a Eli em hamburgo e a maike.

Segunda feira, tive a minha entrevista com a Kattta, das Lojas de roupa. è uma grande amiga da Ulli, que eu também já tinha conhecido alguma vez faz alguns anos. Começo no sábado. Tem um senão: trabalho 2 dias por semana e fica a 3 quartos de hora de comboio, o que significa que pago diariamente 30 euros de transporte!! Bom, mas não vou deixar esta oportunidade.. A ver vamos....

Quando saí de portugal disse-me a mim própria que me dava uma semana para encontrar trabalho. Parace que consegui! Pode não ser o melhor do mundo, mas estou no caminho certo!

Hoje tenho a entrevista no Hotel. Fica a 10 min de comboio de Oberhausen e é um conhecido da Ulli. Essa pode ser a minha grande chance. O posto é recepção no hotel. Despois conto como foi. Entretanto já estive a ver outros jobs pela zona na net... para contactar!

Espero não vos chatear com tanto paleio...

Meus queridos, vamos estando em contacto. Espero que esteja tudo bem com voçês!!

Quem sabe vêmo-nos em breve em Cologne!!!!!

Max, dá beijinhos à canalha toda!! Se falares com a Catarina e com a Ana Isabel, diz-lhes que tentei falar com elas mas não consegui, com muita pena minha.
Jorge, caralho, fica bem. Como estão a correr as coisas por aí? Dá notícias. Dá beijos à Kerstin e à Sabine!!!!.
Quando tiver o nr alemão, vou ligar ao Jorge daqui de colónia.

Depois passo o meu novo nr de tel da alemanha e a morada, quando souber mais concretamente o que se vai passar nos próximos tempos!!
Beijos, Beijos, Beijos!!!!!!
Dêm-me notícias como as coisas rolam por ai!
Jorge Canhola <jorgecanhola@hotmail.com>
10/11/10



para mim

Olá Bela, como vai hoje a nossa Vasco da Gama?
Se estavas a pensar em fazer um diário de bordo, pois eu também, daí parece que vem mesmo a calhar que nos continuemos a comunicar, nem que seja como os putos que saiem pela primeira vez do país, ou que recebemos noticias do estrangeiro, em que tudo nos pareça novo, mas que no fundo, tudo nos pareça familiar, as dificuldades sejam as esperadas, ainda que que possamos ficar admirados pelo que nos está a acontecer, mas tudo faz parte do guião, e levando esse mesmo guião até ao fim, estou convencido que é um daqueles filmes que só pode ter um final feliz. Evidentemente. Forçosamente.
A vida aqui no barco vai de mal a pior, a clientela cada vez é menos, e lógicamente, para desespero da madame Sissi, os prejuizos, daí eu ter dúvidas que o barco sobreviva depois do natal, até porque no dia 19 de dezembro vou de férias para Buenos Aires e não vejo a gaja fazer qualquer coisa para garantir que o funcionamento do barco tenha continuidade, mas a ver vamos.
Quanto ao meu diploma de cozinheiro, que como sabemos foi homologado mas não promologado, isto é, é legalmente pago mas não é reconhecido, para já, alguma coisa vai mexendo, fui, entre outros departamentos, novamente à escola de turismo, em que referi que o avaliador externo foi um chefe da propria escola, o chefe Delfim, e que por isso não estava a entender a palhaçada, e surpeendidos pelo facto de a propria escola, de alguma maneira estar ao corrente dos cursos, lá ficaram com a minha identificação e que, talvez, até ao natal me dirão qualquer coisa.
É uma merda mas pelo menos é esperançador. Puta que os pariu.
Esse filme Os segredos dos teus olhos, também o vi e é um filme espectacular, e tem uns actorazos.
Bom, continuemos as nossas respectivas aventuras, que outra não nos resta e ao final, e de certeza vai dar matéria para, mais tarde, falar e beber umas cervejitas.
Sempre prá frente, nunca pra trás. (Erich Honecker, estranhamente)
Não te mando os 5 contos porque já estava a carta fechada. (prov. alentejano)
jorge
este foi o último dia que "falei"com o jorginho. depois disso foi para buenos aires com a sua mulher. tinha sim agendado um dia no skype que seria a 9.12, mas ele não estava online. seria para termos a despedida dele antes de ir para a argentina. mas essas marcações com o jorge falhavam muitas vezes. não por mal, mas é que a vida do jorge tinha sempre muitos imprevistos todos os dias: ou encontrava alguém e perdia-se na conversa, ou lembrava-se que era esse o dia para não adiar algo que lhe veio à cabeça, enfim,, sempre razões para adiar um telefonema ou um encontro no skype. penso que foi isso que aconteceu.
o facto é que tenho muitas saudades dele. cada vez mais precisava de um grande desabafo. e ele era um bom ouvinte. sabia ler as palavras e o silêncio entre elas. e com essas ferramentas ele podia levantar um morto. poucos sabem fazer isso. cada vez aprecio o silêncio entre as palavras para melhor entender a razão das coisas, a razão das certezas, dos medos, das dúvidas e dos bloqueios. esse silêncio nunca é em vão. quando não há silêncio, é quase sempre fruto de medos, de não querer se ouvir para se protejer. todos nós passamos por isso. faz parte do crescimento de cada um.
agora já lá vão 2 anos desde a sua partida. nunca mais escrevi o tão pensado e desejado diário de bordo. teria sido um diário interessante pois seria um a dois. seria de rir, tenho a certeza. no meio de todas as tragédias que pudessem ser relatadas, tenho a certeza que o humor - negro ou não - estaria sempre presente, nem que fosse com uma anedota inventada à là minute do jorge. eu não. sempre fui mais séria do que ele. nunca soube fazer uma anedota no momento, nem nunca soube fazer rir muita gente. ele tinha algo de mágico. sem dúvida.
hoje é um dia como outro qualquer, em courchevel, em que a saudade é intensa e o silêncio a ti te pertence. bela